Igreja

O próximo Papa

Foram emocionantes as celebrações de despedida do Papa Francisco. Tudo muito bonito, sóbrio, solene, significativo. Houve muita emoção por parte das centenas de milhares de pessoas que foram até Roma. Também nós, acompanhando pelas redes sociais, nos emocionamos. No primeiro dia de visitação do túmulo do Papa Francisco, domingo, 70 mil pessoas passaram pela Igreja de Santa Maria Maior. São sinais de que Francisco soube tocar o coração de muitas pessoas.
 
“Só a Deus seguimos e adoramos. Não coloquemos pessoas humanas no lugar de Deus. Não se está na Igreja pelo Papa ou por qualquer outra liderança humana”
 
É preciso, contudo, fazer uma ponderação: não devemos idolatrar o falecido Papa Francisco. Aliás, não devemos idolatrar ninguém. Só a Deus seguimos e adoramos. Não coloquemos pessoas humanas no lugar de Deus. Não se está na Igreja pelo Papa ou por qualquer outra liderança humana. É evidente que ajuda, sim, e deve ajudar. Mas, não façamos o nosso amor ao Papa virar idolatria. Ele mesmo não queria isso. O que ele quer é que nós assumamos suas propostas: um amor fraterno, que vem do Evangelho, que se estenda a todos, também à criação de Deus.
 
Agora se aproxima o início do conclave. Importante: o conclave não é inspirado no filme de mesmo nome. Há muita especulação sobre os bastidores, sobre a “política eclesiástica”, sobre os interesses de grupos, quais facções estão brigando pelo controle da Igreja. Há diferenças de posicionamentos, há modos diversos de compreender a missão da Igreja no mundo, há entendimentos variados sobre a postura e a missão do papa. E isso é legítimo.
 
A história da Igreja é feita de continuidades e mudanças. No caso do papado, há uma sucessão apostólica. Pedro foi o primeiro Papa. Francisco veio depois de Bento XVI. Mas, na verdade, cada papa sucede a Pedro. Qual a diferença? A referência maior para o papado é a relação de Cristo com Pedro, sobre quem Ele decidiu fundar a sua Igreja. A referência do Papa deve sempre se voltar àqueles relatos bíblicos da relação de Deus com o ser humano, a quem confia o cuidado da Igreja. Talvez seja interessante reler Mateus 16,13-28 e o capítulo 21 de João. Cada papa pode fazer inovações, mudanças, reformas. Mesmo assim, há uma linha de continuidade na história da Igreja.
 
Testemunhar e comunicar a fé de acordo no tempo
 
Penso que o maior desafio do papado é o mesmo desafio de toda a Igreja, de cada bispo e de cada uma das nossas paróquias e comunidades de fé: testemunhar e comunicar a fé de acordo com a linguagem e a sensibilidade deste tempo, sem perder a fidelidade ao Evangelho. O desafio é fazer, por exemplo, um adolescente que vive na era da Inteligência Artificial perceber que o cristianismo pode dar-lhe sentido para a vida e a salvação eterna. Mas, o que significa para um adolescente a palavra “salvação”? Sacramento, liturgia, rito, dogma, doutrina, moral, hierarquia – tudo isso precisa fazer sentido.
 
“ A Igreja não é um museu. A Igreja é viva, tem Tradição e é contemporânea”
 
A Igreja guarda uma Tradição belíssima e riquíssima. O nosso desafio – e queremos que o Papa nos ajude nisso – é não desfigurar este tesouro pela sede de novidades e, também, não ficar com esse tesouro tão guardado a ponto de ele cheirar a mofo, a coisa velha. A Igreja não é um museu. A Igreja é viva, tem Tradição e é contemporânea.
 
Não tenho palpite sobre quem será o próximo papa. A mim interessa que ele ame a Cristo, ame a Igreja, ame a humanidade e a Criação de Deus. Ele não precisa ser igual a Francisco. Tomara que se inspire nas boas práticas de Francisco, sim. Destaco os valores da simplicidade e da comunicação direta, compreensível. Que o papa se inspire na Palavra de Deus para nos ajudar a manter a fidelidade ao Senhor e saber dialogar com as pessoas de hoje. O próximo papa também deverá ser amado e ouvido por todos nós. Nada de comparações. O importante é que cada pessoa seja autêntica e fiel à missão que recebe.
 
Rezemos pelo próximo papa.
 
Pe. Eduardo Haas
Paróquia Cristo Redentor - Tupandi